Olho d'água, v. 13, n. 2 (2021)

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Dever de memória: traduzindo Scholastique Mukasonga no Brasil

Raquel Peixoto do Amaral Camargo

Resumo


RESUMO: Partindo de cruzamentos entre escrita testemunhal e regimes de verdade, o presente artigo se propõe a pensar compromissos e sensibilidades da tradução diante da escrita autobiográfica de Scholastique Mukasonga. Para isso, escolheu-se analisar trechos do romance Um belo diploma [Un si beau diplôme!], com foco na tradução de referentes culturais, bem como nas construções memorialísticas do texto. Precederam as análises reflexões acerca do dever de memória, inicialmente exercido em razão das atrocidades cometidas durante as duas Grandes Guerras, mas hoje expandido às elaborações de luto pós-genocídios. A escrita testemunhal literária, bem como as polêmicas que se desdobram em torno dessa noção, também compuseram esse quadro inicialde reflexões. A noção de uma literatura na fronteira dos regimes de enunciação, conjugando, sem reduzir, literatura e testemunho, foi central para situar os escritos de Mukasonga. Buscouse, ao longo do trabalho, vislumbrar o potencial da tradução de deslocar, transferir e, com isso, acrescentar camadas de sentido ao texto traduzido, avaliando também os seus compromissos com o texto original, o respeito pelos seus tempos, seus contextos e coloridos próprios.
ABSTRACT: Based on the intersections between testimonial writing and regimes of truth, this article intends to think about translation commitments and sensibilities in the autobiographical work of Scholastique Mukasonga. To this end, excerpts from the novel Um belo diploma [Un si beau diplôme! / Such a Wonderful Diploma] were analyzed, focusing on the translation of culturalreferents, as well as on the text’s memorialistic constructions. The analyses were preceded by reflections on the duty of memory, initially put in practice as a result of the atrocities committed during the two World Wars, but today amplified to the elaborations of post-genocide mourning. The literary testimonial writing, including the controversies centered on such concept, were alsopart of this initial framework of reflections. The notion of a literary project situated on the border of regimes of enunciation, combining literature and testimonial, with no reduction to either genre, was fundamental to put Mukasonga’s work into perspective. Throughout this study, we sought toglimpse the potential of translation to displace and transfer, and thus add layers of meaning to the translated text, while assessing also its connections with the original text and the respect for its own times, contexts and colors.

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