Olho d'água, v. 12, n. 1 (2020)

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Um teto todo nosso: visibilidade, resistência e subjetivação em clubes de leitura

Michelle Silva Borges

Resumo


Que é o ato da leitura, senão a incorporação da subjetividade de protagonistas e a indivisível produção dos sentidos. Pensado como monumento, seria o livro e, consequentemente, a literatura, um legado consciente ou inconsciente das palavras mudas, sobre o qual se expõe uma ordem do discurso. Assim, a partir de Le Goff (1990), ao propor a necessidade de demolir a construção e analisar as condições sob as quais se produzem os documentos/monumentos, esse trabalho focaliza sua atenção no consenso, atravessado por relações de poder, da predominância masculina nos processos literários, desde quem escreve e estendendo-se na escolha de quem o lê. Isso posto, norteando-se pela asserção de Virgínia Woolf (2014), ao exteriorizar a escassez de espaços às mulheres para a produção literária, que deram conta também da ausência de reflexões femininas sob um determinado sentido, isto é, o das mulheres, procura-se, então, destacar o surgimento de clubes de leituras criados sob o propósito de privilegiar, com exclusividade, a escrita das mulheres. Percebidos como uma das marcas da sociedade contemporânea, bem como herança das conquistas feministas, tais grupos, constituídos majoritariamente por mulheres, miram, na linha de seus efeitos, a subversão da velha ordem do discurso de produção literária masculina. Essa é uma posição, obviamente, promotora da construção de um pensamento crítico e, de forma indissociável, dos processos de subjetivação de suas integrantes balizados pelas interpretações de si mesmas. Além disso, sob o respaldo do exercício foucaultiano (2014), no que diz respeito às relações de poder, entende-se que tais espaços, ao se reinventarem sob a idiossincrasia literária instituída, figuram como um local de protesto, onde, através de suas práticas, sujeitos e impulsos, ousam as mulheres a se posicionarem do outro lado das relações de forças que atravessam e compõem, também, o universo da literatura, apregoando-se, assim, como interlocutoras irredutíveis.

 

What is the act of reading, if not the incorporation of the protagonists´ subjectivity and the indivisible production of the senses? Thought as a monument, it would be the book, and therefore literature, a conscious or unconscious legacy of mute words upon which an order of discourse is exposed. Thus, based on Le Goff (1990), in proposing the need to demolish the construction and analyze the conditions in which monuments/documents are produced, this paper focuses on the consensus, crossed by power relations, of the male predominance in literary processes, from the one who writes to the one who reads. So, guided by Virginia Woolf's (2014) statement, in externalizing the scarcity of adaptations to women for literary production, which also revealed the absence of feminine reflections in a sense, of the women, it is necessary to emphasize the emergence of reading clubs created to privilege, exclusively, the writing of women. Perceived as one of the marks of contemporary society, as well as an inheritance of feminist achievements, such groups, composed mainly of women, have as purpose the subversion of the old order of the discourse of masculine literary production. This positioning, of course, promotes the construction of critical thinking and, inseparably, the subjectivation processes of their members marked by the interpretations of themselves. Moreover, under the support of Foucault (2014), in regard to power relations, it is understood that such spaces, when reinventing themselves under the established literary idiosyncrasy, mean a place of protest, where, through their practices, people and impulses, women are challenged to be on the other side of the relations of forces that cross and also form the universe of literature, proclaiming themselves as irreducible interlocutors.


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