Olho d'água, v. 6, n. 2 (2014)

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Sobre arquivos e fantasmas: memórias da repressão em Portugal

Lisa Carvalho Vasconcellos

Resumo


No início dos anos noventa, os antigos arquivos da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), polícia política do regime salazarista, foram, depois de longo tempo, abertos para consulta pública. Natureza Morta (2005) da produtora e diretora portuguesa Susana de Sousa Dias é um filme que surgiu como consequência direta do contato com esse material até então interdito. Ele se propõe à delicada tarefa de narrar (e elaborar) de maneira complexa e enviesada a memória da repressão que vigorou no país durante o regime de exceção. A base do trabalho são os mugshots, retratos de registro de frente e lado, feitos para cada um dos indivíduos que foi apreendido e fichado pela PIDE. No filme, essas pequenas fotos são contrapostas a outras imagens de arquivo, a saber, aquelas que serviam de propaganda institucional ao próprio governo português. O filme põe em sequência imagens de eventos militares oficiais, festas religiosas, desfiles estudantis – intercaladas sempre por pequenas mugshots, nas quais o espectador surpreende, em rostos incrivelmente comuns, toda a repressão e violência dos anos de chumbo portugueses. Para a leitura proposta, conceitos como os de arquivo, fantasmagoria e sobrevivência das imagens – desenvolvidos, principalmente, por Jacques Derrida e Georges Didi-Huberman – serão as referências fundamentais deste trabalho.

 

In the early 90’s, the old PIDE (the political police kept by Salazar during his authoritative government) archives were open to public consultation. Still life (2005), by the Portuguese director Susana de Sousa Dias, is a film that works directly with this material. The film tries to narrate (and elaborate) in a complex and indirect way facts concerning Portugal´s dictatorial system. The work is based on the filming the mugshots that were made for each individual that was apprehended and booked by PIDE. In Still life, those little pictures are contrasted with official governmental images used as propaganda by Salazar´s regime. The film puts in sequence images of military events, religious festivals, student´s parades – always intertwined by the small mugshots where the spectator sees in the prisoner’s plain faces, all the violence and repression of Portugal´s dictatorial ship. To analyze that film we will use the concepts of archive, phantasmagoria, and survival of images found in the works of Jacques Derrida e Georges Didi-Huberman.


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