Olho d'água, v. 6, n. 2 (2014)

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Documentários brasileiros rompendo silêncios históricos e pessoais

Paulo Sérgio Souto Mota, Eliane Vasconcelos Diógenes

Resumo


Este trabalho debate o fenômeno comunicacional contemporâneo no qual o sujeito, sob efeito do sofrimento gerado pelo assassinato de um familiar militante contra a ditadura militar, busca recuperar memórias e questionar a versão oficial das suas mortes, através da realização de um documentário. Constatamos nos últimos anos uma crescente produção e aumento de prestígio deste tipo de documentário e escolhemos duas obras para analisar: Diário de uma busca, 2010, dirigido por Flávia Castro que focaliza a história do pai Celso Castro, e Em busca de Iara, 2013, em que Mariana Pamplona enfoca o percurso da tia Iara Iavelberg. A discussão se fundamenta na interface entre as pesquisas provenientes da área da comunicação sobre as tensões entre o público e o privado no cinema documentário subjetivo e a teoria psicanalítica, através do paradigma de Sigmund Freud e Jacques Lacan, sobre o mal estar do sujeito na cultura e a perspectiva da sublimação. Em ambos os documentários, a primeira parte evoca a militância corajosa e destemida dos familiares, no caso o pai e a tia; e a segunda parte investiga e confronta entrevistas com familiares, amigos, militantes, policiais e médicos legistas, refutando a versão oficial sobre as condições de suas mortes; denunciando as lacunas. Diante do trauma da morte em condições suspeitas, as documentaristas realizam os filmes, inscrevendo a concepção de assassinato na história, como forma de romper silêncios de foro íntimo e coletivo. A marca destes documentários em primeira pessoa consiste em articular experiências particulares com histórias e memórias coletivas, o que configura uma modificação importante do documentário “clássico” político. A potência dos mesmos emerge da possibilidade de se resgatar determinados aspectos de uma situação pública pelo viés da subjetividade, com seu discurso sem pudores e emocionado sobre a história brutal.

 

This study discusses a contemporary communicational phenomenon in which the individual, under the effect of suffering created by the murder of a family militant member against the military dictatorship, tries to bring back memories, and also questions the official version of their deaths through the production of a documentary. We have noticed in the last few years an increasing production of this kind of documentary, as well an increase of the prestige of such works. Two works were selected to be analysed: “Diário de uma busca”, 2010, directed by Flavia Castro, that focuses on the story of the father Celso Castro; and “Em busca de Iara”, 2013, in which Mariana Pamplona focuses on the journey of her aunt Iara Iavelberg. The analyzes is based on the boundary of the researches that came from the communication area about the tension between the public and private, in the subjective documentary cinema and the psychoanalytic theory, through Sigmund Freud paradigm and Jacques Lacan, about the an individual malaise in his/her culture and the perspective of sublimation. In both documentaries, the first part evokes the brave and fearless combativeness of the relatives, in this case, the father and the aunt; and in the second part they investigate and confront interviews with relatives, friends, militants, policemen, coroners, contesting the official version on the conditions of their deaths; denouncing the gaps. Due to the trauma of deaths under suspicious conditions, the documentary producers make the films carving the concept of murder in the history, as a way to break the personal silence, as well as the collective one. The use of the first person, in these documentaries, consists in articulating individual experiences with historical and collective memories, what sets up an important change of the classical political documentary. The power of these works emerges from the possibility of rescuing certain aspects of a public situation through the subjective bias, with a thrilled speech without modesties by the brutal history.


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